quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Hoje acordei com o rádio tocando INXS



Acho que nunca me conformei com a morte do Michael Hutchence. Claro. Não que eu tenha sido seu maior fã, ou algo que o valha. Mas é que toda vez que ouço “By my side”, sinto um aperto no peito, e aquele nó na garganta. Começo dos anos 90. Ótima época. Ainda estava no segundo grau, ainda tinha cabelo. Poucas preocupações, a não ser estudar um pouco, dormir à tarde e pensar que grupo muscular eu exercitaria na academia mais à noite.

Lembro-me também das minhas primeiras frustrações e decepções. Da minha primeira dor-de-cotovelo e, consequentemente, do primeiro porre com vinho barato. Até hoje fico pensando como apesar de tudo tive dignidade ao acertar a pontaria na privada, enquanto “ouvia” minha mãe brigando. Grandes amizades, novas idéias. As decisões do que fazer, de como conduzir o resto da minha vida estavam pra chegar, mas ainda podiam esperar um pouco.

Anos e músicas se passaram. E engraçado pensar numa trilha sonora que acompanha sua vida. Talvez nem todos os momentos mereçam ser eternizados numa canção, mas outras deveriam ganhar regravações, versões instrumentais com a Filarmônica de Berlim, a capella, com o coro dos meninos castrati de Viena e remixes do Timbaland.

O primeiro dia na faculdade. O choque da primeira agência. O primeiro salário gasto com alguma coisa inútil, mas divertida. Bem, no meu caso, meio tóxica e inflamável. A perda de pessoas queridas, ao mesmo tempo que outras chegavam. As descobertas boas e as ruins.

Mesmo aquela música do David Bowie que lembra um grande amor que foi embora. Ou The Corrs, que apesar de babinha e tema de novela, embalou ótimos momentos que nem a distância conseguiria impedir. Aquela viagem fantástica, mas demorada, cuja única música que prestava no CD era "Downtown", do Peaches. A explicação incompreensível de "Wonderful Tonight", que é brega de doer, mas consegue me fazer fechar os olhos e até suspirar quando ouço. Todas provocam a mesma sensação estranha: uma nostalgia que me deixa dúvidas, se gosto ou não de sentir.

Se pudesse incluir aleatoriamente algumas músicas, colocaria até umas de gosto bem duvidoso. Talvez Bee Gees. Furingo até a última geração dos Gibbs. Acho Dalto fantástico. Fatalmente teria alguma dele. Se bem que não sei onde se encaixaria.

- Ai, Henry. Ai. Vai. Continua assim.
- Humm. Delícia. Isso. Geme, geme.
- Aiiiiiiiii. Bate, Henry. Bate na minha bunda.
- Vou só aumentar o rádio, pra vizinhança não ouvir.
“Uhhhh. Cuida bem de mimmmmm. Então misture tudo. Dentro de nós”.
- Calma, Henry. Isso acontece. Vamos tentar de novo depois.

Acho que toda vida deveria ter uma trilha sonora. Pra ser memorável. Pra ser inesquecível. Quem não lembra da overdose de Uma Thurman, ao som do Urge Overkill? Stallone treinando nos acordes de Survivor. Diane Lane dublando “Nowhere fast”, enquanto o Tom Cody de Michael Paré vai embora da cidade. A “Marcha Imperial” do Darh Vader. Até aquela merda de “Unchained Melody”, que embalou o amor elameado do Patrick Swayze a da Demi Moore, é lembrado. Por que então, nós, pessoas comuns, não podemos ter um disquinho só nosso? Com uma capinha feita utilizando aquelas fotos de estúdio.

É. Acho que tenho algum CD do INXS aqui. “New sensation” é uma boa. Depois eu ouço “By my side”.

Ilustração do Luke Chueh, http://www.lukechueh.com/

5 comentários:

  1. nem todos os segredos deveriam ser revelados. gostar de dalto, por exemplo.

    fora isso, adorei o textinho :)

    chuchuuuuuu

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  2. Oi, cheguei pelo blog da Sabrina... Eu sempre disse isso, que o que falta na vida é trilha sonora... Falta edição também, mas aí é uma outra história... beijos, gostei!

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  3. Adorei! Vou ler os anteriores. Adoraria que tivesse postado isso depois de quinta...rs

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  4. Também sinto nostalgia dessa época, ouvindo Dalto. Putz, mas que é brega, é!

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  5. Jesus me abane 3x... Dalto? Cuidado que começa assim e depois chega no Wando e depois pula pra Sidney Magal! uhauhauhauh!

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