quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Amigas


André e Juliana já estavam saindo há um mês. Conheceram-se numa tarde no boteco, quando foram apresentados por amigos em comum. Ele já estava bêbado, e ela com intenção de conseguir ficar também. Permaneceram ali até a noite. Um bom número de caipirinhas depois, ainda conseguiram trocar telefones. E começaram a se ver com frequência.

Iam ao cinema, praia, teatro. Almoçavam juntos. Tecnicamente formavam um belo casal, mas mantinham um certa margem de segurança no relacionamento. Era uma espécie de acordo: não estavam namorando. Era uma situação aparentemente cômoda para os dois. Estavam simplesmente curtindo a companhia um do outro. Ela tinha acabado de sair de uma relação tumultuada. Ele, sempre muito ocupado, não conseguia parar com ninguém. Claro, fora o fato de que era assumidamente um galinha. Mas estavam se dando bem, conseguiam se divertir, tinham afinidades e o sexo era igualmente muito bom. Em teoria, estava tudo correndo naturalmente, apesar de não assumirem nada.

Dias depois, Juliana terminava de se ver mais uma vez no espelho, quando o celular tocou. Era André, que tinha acabado de estacionar na frente de sua casa. Passou a mão mais uma vez pelo belo vestido preto, ajeitou o cabelo e saiu. Quando entrou no carro ele ainda estava sorrindo, meio abobado por aquela linda visão, e um pouco inebriado pelo perfume delicioso. Beijaram-se, trocaram alguns elogios e foram pro aniversário de Raquel.

Chegaram no prédio da amiga de Juliana. Ele conhecia metade das amigas dela de vista, ou de ouvir falar. Entraram, cumprimentaram a aniversariante e foram beber alguma coisa. Aproximaram-se de um grupo pra conversar, e foi quando ele viu Beatriz. As duas se abraçaram. Descobriu depois que eram grandes amigas. Ela, mais velha tinha dado muito apoio a Juliana, quando terminou com o ultimo namorado. Era tratada como “mamãe” por ela.

Tinha uma beleza normal, apesar de um corpo deliciosamente bem feito para seus trinta e seis anos e uma filha adolescente. Alta, pernas grossas, uma bundinha redonda e durinha. E peitão. Ah. Ele adorava um peitão. Podia passar horas apertando, amassando, chupando, lambendo, massageando, mordendo e todo tipo de perversão possível com um mamilo. Depois desse devaneio envolvendo peitos, voltou a realidade quando Juliana os apresentou. Uma hora de conversa e algumas doses de Jack Daniels depois, já eram grandes amigos. Tinham inclusive, trocado telefones. Sem que Juliana tivesse visto, claro.

Uma semana depois, enquanto chegava em casa de uma festa, exatamente as duas da manhã, André se assusta com o torpedo. “Ta fazendo o que de bom, heim?”. Era de Beatriz, que a essas alturas já era Bia pra ele. Apesar de achar estranho, gostou da mensagem, e respondeu. Ela estava numa comemoração com os amigos do trabalho e queria que ele fosse lá. Preferiu não se precipitar e decidiu ficar em casa. Passaram mais de uma hora assim e quando o último torpedo foi mandado, um possível encontro já estava marcado para o dia seguinte. E parecia que a fortuna sorria pra ele, ou Júpiter estava na terceira casa de Urano, ou qualquer merda dessas que significasse sorte, porque exatamente naquela semana, Juliana estava fora da cidade a trabalho. Caso fossem aprontar, o momento seria esse.

Logo pela manhã, André mandou um torpedo pra Beatriz. Estranhamente, ela não respondeu. “Deve estar ocupada”, pensou. Mais tarde ligaria pra ela e combinariam. Estava um dia bonito, ensolarado. Trabalhou bem. Mas uma coisa ainda martelava sua cabeça: porque Beatriz, sendo grande amiga de Juliana, queria sair com ele? “Caralho! É uma cilada”, cogitou. Na certa as duas tinham combinado. Era um teste que fariam a ele. Mas queria provar o que exatamente? Que ele era fiel? Ora. Nunca tinham feito promessas um ao outro. E apesar de não terem discutido nada sobre isso, não poderiam ter cobranças. Sendo assim, se ela queria confirmar alguma coisa, estava traindo o “pacto” deles. Sentiu ainda mais vontade de consumar o ato. No fim das contas, ele estava conformado com sua condição de safado. Queria saber se elas poderiam bancar a posição que estavam tomando.

Na saída do trabalho, ligou pra Beatriz. Ela atendeu com uma voz diferente do entusiasmo habitual. Ao mesmo tempo que achou estranho, parecia entender o que estava acontecendo. Mas queria ouvir dela.

- Acho que não podemos sair – disse ela, sem rodeios.

- Ah, é? Por que mesmo?

- A Ju é minha amiga. E está gostando de você.

Ah, merda. Por essa ele não esperava. Ou talvez esperasse, o que o assustou mais ainda. Apesar de seu jeito aparentemente desligado, era atencioso, gentil, cavalheiro. Bem o naipe que encantava alguns tipos de mulher. Não seria a primeira vez que uma eventual conquista se tornaria um pesadelo psicótico de perseguição em sua vida. Pensou que aquilo poderia ficar mais complicado do que imaginava. O fato de Juliana estar realmente gostando dele, já o deixava em pânico. Se ela descobrisse que ele o traiu com sua grande amiga, aí sim. Estaria fodido de verdade. Tinha pavor daquelas histórias de mulheres vingativas que jogam óleo fervente nos maridos enquanto eles dormem, ou cortam seus pintos num acesso de raiva. Só que agora queria pagar pra ver, de qualquer jeito.

- Bem, não posso te obrigar – ele falou, com uma calma irritante.

- Como não? Respondeu, parecendo decepcionada.

- Eu entendo. São amigas. Não quero estragar nada disso.

Pelo momento de silêncio que ela fez ao telefone, ele sentiu que não era essa a resposta que ela queria ouvir. Talvez desejasse insistência, um pedido mais convincente. Queria ser convencida, persuadida. Mas ele jamais faria isso. Conversaram mais um pouco, até que o tom de preocupação e remorso dela pareciam desaparecer. Disse que estava confusa, e que ia sair um pouco, pra tentar organizar a cabeça. André ouviu pacientemente e falou que caso ela mudasse de ideia, ou quisesse conversar, poderia ligar pra ele. E alguma coisa lhe dizia que ela faria isso. Não estava nem um pouco preocupado em pensar o motivo pelo qual ela trairia a confiança de sua amiga. Estaria tão interessada nele, a ponto de arriscar sua amizade? “Foda-se”, pensou. Se ela fosse tão ardilosa assim, Juliana nunca saberia de nada. Se soubesse, foi porque ela contou, e aí, quem arcaria com a responsabilidade não seria ele. Na sua lógica as avessas, a traição partiria dela.

Resolveu aproveitar o fim da tarde pra tomar uma cerveja com uns amigos. Jogava conversa fora e ria bastante, quando sentiu o celular vibrar no bolso. Era Beatriz, querendo saber onde ele estava. Depois que ela confirmou saber onde ficava o local, desligaram. Meia hora depois ele olhava do outro lado da rua, enquanto ela descia do carro. Vestidinho verde e leve, sandálias, poucos acessórios. O cabelo ainda estava meio molhado. Adorou essa produção com cara de “não-estou-nem-aí-mas-é-mentira”.

Ele se levantou e a beijou no rosto. Apresentou-a para as outras pessoas na mesa e perguntou se ela queria alguma coisa. Recusou. Estava um pouco nervosa, aflita. Mas sorria e conversava normalmente. Somente os dois percebiam a grande tensão que pairava no ar. Mais uma hora e as pessoas começaram a se despedir. Pediram a conta, pagaram, e cada um foi para seu carro. Exceto ele, que deu a chave para um amigo que estava de carona. Iria no carro com ela.

Não conseguiram nem chegar ao motel. Uma rua escura e deserta foi onde pararam o carro e treparam alucinadamente. Apesar de apertado, para eles não poderia ter lugar melhor. Tornou a situação ainda mais clandestina e perigosa. Conversaram mais um pouco, sem nem sequer tocar no nome de Juliana. Mais sexo, dessa vez com calma, aproveitando melhor. Vestiram-se. Ela o deixou em casa e foi embora. Esperou o carro virar a esquina e sorriu. Tirou a chave do bolso e pensou que quando a culpa batesse na porta dela, seria com força. Talvez tentasse ligar pra ela no dia seguinte, mas sabia que ela não atenderia.

 

 

4 comentários:

  1. um cara como esse nunca saberá o que é remorso na vida.. q bom né. fdp.

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  2. normal.

    poderia ter acontecido da Juliana gostar de um amigo dele, tb. hipocrisias, à parte, ela tb transaria com ele, mesmo com um discurso cheio de hipocrisia (à parte).

    ou não.

    é a vida...

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